EDITORIAL, POR PROF. EMENSON SILV A: *Beleza rara, vergonha comum — um conto da “Terra do Já Teve”*
Postado 14/06/2025 10H42

Hoje, vou contar uma história para vocês, que um matuto me contou certa vez, de forma astuta de quem lê a sociedade como ninguém, mas com quase nenhuma chance de se fazer ouvido.
Ele fala de uma cidade linda, quase mágica, com praias que parecem pinturas, morros que sussurram lendas e um povo que acorda cedo, enfrenta lotação, reza para a chuva não vir e ainda arranja tempo para sorrir. Uma cidade abençoada nas belezas naturais… e, de certa forma, bem azarada pelas escolhas políticas.
Essa é daquelas histórias que, nos tempos de antigamente, poderiam muito bem ser escritas com o “E” e não com “H”, mas se confundem entre o faz de contas e o contas a pagar.
A cidade em questão se chama “Terra do Já Teve” e nela vive um povo maravilhoso, que luta e muito para sobreviver e, o mais incrível, sem tirar o sorriso do rosto. Mas tudo tem limite e a paciência tem se perdido, pois cada vez mais esse nome faz mais sentido. Lá já teve saúde boa, já teve respeito ao servidor, já teve diálogo com quem governa, já teve crescimento, investimentos, já teve até tempo para sonhos… hoje, só tem pulseira cara, discurso mole e ameaça dura, vulgo vem que tem .
Quem comanda a cidade é o Menininho, moço de fala fina, passos firmes e um gosto, digamos, por acessórios que custam mais que o concerto de uma ambulância parada em oficina mecânica. Ele é filho do Meninão, uma figura folclórica que conseguiu sair da vida pública do município pela porta dos fundos, levando de tudo, inclusive peças íntimas que deveriam ser tombadas, já que foram compradas com o dinheiro dos contribuintes.
O Menininho, crescido em berço de linho e regado a muito “sim, senhor”, trata a cidade como se fosse um parque de diversão. Acha que governar é brincar de casinha, desde que a casinha tenha ar-condicionado, camarote VIP para ele, familiares e amigos pomposos e verba para assessoria de imagem.
Aliás, imagem é com ele mesmo. Enquanto o povo espera por grandes ações, o moço passeia com ares de celebridade. Dizem que a agenda é cheia: não de obras, mas de sessões de fotos. O Instagram trabalha mais do que qualquer secretaria municipal. E ainda parece que a irmã e a esposa sempre estariam ao seu lado nas agendas oficiais, aquelas que envolvem carimbos no passaporte.
Na Terra do Já Teve, muita gente apostou na renovação como quem planta esperança num solo cansado. Sonharam com novos ventos, acreditaram em promessas com cheiro de novidade. Mas o que veio foi mais calor, mais poeira e menos sombra. Hoje, os mesmos que viraram a página, andam relendo o capítulo anterior com certa nostalgia e até saudades. Afinal, antes havia café quente nas reuniões e expedientes no gabinete, mesmo que os problemas não fossem poucos. Hoje, o que se serve são recados atravessados e ameaças silenciosas.
Parece que o Menininho não gosta de ser contrariado. Quando alguém diz "não", ele faz beicinho, aperta os olhos, levanta a caneta e risca a folha onde estava o nome, mesmo que seja de um aliado. No rastro do Menininho, quem não dança conforme a música acaba sumindo (da folha, do jogo…) e isso não por acaso. Falam que ele persegue com método, não raiva, mas sim, coreografia.
Enquanto isso, sobra tempo para as comemorações e festas, cheias de luzes, fogos que brilham mais que as promessas não cumpridas e contratos muito caros. E o que realmente precisa? Ah, isso tem ficado para um outro dia ou, talvez, para uma outra festa.
A gestão do Menininho virou um espetáculo à parte. Tem luz, palco, som e confete. O problema é que a plateia já começa a vaiar. Os apoiadores, que antes batiam palma, estão saindo de fininho, talvez por ética, talvez só por cálculo mesmo. Já o povo, protagonista invisível, segue sua sofrência real. Diferente da que as duplas tocam nos palcos não licitados e valores altíssimos, mas sim a da luta diária, no sufoco de quem tem que arrumar tempo para chegar mais cedo no ponto de ônibus, já que estão sempre lotados, quando a condução chega.
Pelas esquinas, a população continua levando a vida ensaiando seus próprios passos, dos que não cabem na coreografia criada pelo Menininho. E enquanto ele acha que está brilhando no palco, tem gente dançando de verdade, com a falta de tudo que não aparece nos holofotes, aprendendo a se virar na marra, no improviso, no ritmo desgovernado.
A verdade é que a Terra do Já Teve anda mesmo cansada. Cansada de discurso bonito e atitude pequena. De luxo na mão de poucos e suor no rosto de muitos. De um Menininho que acha que política é como quando ele subia nos palcos, em sua juventude, e governar é postar nas redes.
Mas, como toda boa história, essa também pode ter reviravolta. Porque o povo, quando se cansa, não grita, ele age e muda destinos. E aí, nem cinto de grife segura a queda.
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